Rádio Social
Início de madrugada sem luz. Deito-me lamentando as impossibilidades da internet.
Lembro-me do radinho de pilha ganho por minha filha num troca-troca de amigo oculto há uns dois anos. Pouca utilidade para uma jovem que preferiu deixá-lo comigo, aqui, no interior.
Naquele momento entendi que seria a única forma de me sintonizar com o mundo lá fora.
Ligo, estendo a antena e passeio por algumas emissoras.
Fixo-me numa de grande alcance nacional.
Voz empostada de um verdadeiro comunicador.
Ouvintes de todo o Brasil
Entre uma música e outra (a gosto do ouvinte), notícias.
Mas o fundo principal era a solidão.
Tanto falam a respeito da exposição das redes sociais, impressionei-me com a exposição na rádio social ao vivo ou facilitado pela modernidade do WatsApp. Senhores e senhoras, nomes, telefones, endereços, procurando companheiros ou companhia.
- “Só um senhor me ligou. Tenho a minha casinha, sou aposentada, tão sozinha...” ou
- “Vou deixar meu número outra vez, quem sabe uma senhora entre em contato...”
Entendi que o rádio integra uma grande rede social que vai além da informação.
Sentia-me embalada pelas ondas eletromagnéticas que circulam pelos céus do Brasil.
Busquei papel e lápis. Comecei a escrever.
A luz voltou.
Desliguei o rádio, terminei no note, afinal minha antena rural voltara a funcionar.
Rogoldoni
21 01 2016
Rosângela de Souza Goldoni
Enviado por Rosângela de Souza Goldoni em 21/01/2016
Alterado em 24/06/2018
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